Os jardins da Praça de Casa Forte, o primeiro
projeto de jardim público de Burle Marx, realizado em 1935, deixam transparecer
as preocupações ecológicas e estéticas, reunindo uma variedade de espécies
vegetais provenientes da Amazônia, da Mata Atlântica como também plantas
exóticas.
O elemento vegetal é o principal objeto de
composição, nas quais ele utiliza exemplares até então desconhecidos na criação
de cenários urbanos de beleza especial, numa proposta em que busca fugir aos
padrões europeus, até então vigentes, para criar um jardim tropical.
De traçado geométrico originado por formas
regulares, a Praça de Casa Forte enquadra-se, segundo a interpretação de
Camillo Sitte, na categoria de "praça de profundidade", em relação à
Igreja de Casa Forte, existente no local, pois os seus componentes estão
dispostos em direção a sua fachada principal. Está situada no tradicional
bairro de Casa Forte.
Em linhas gerais, seu projeto paisagístico possui o
formalismo dos jardins franceses, pela simetria e regularidade. A praça é
constituída de dois jardins retangulares e um quadrado, contendo uma riqueza de
espécies vegetais: plantas arbóreas brasileiras da Amazônia, da Mata Atlântica
e também plantas exóticas. Burle Marx trabalhou a vegetação como o elemento
vertical do espaço em relação ao casario histórico, proporcionando efeitos de
verticalidade e de escala. Procurou distribuí-las evidenciando não só a
floração em épocas diferentes do ano, mas também explorando plantas aquáticas
nos três espelhos d'água situados em cada um dos jardins, então inspirados na
proposta do Kew Gardens de Londres.
No jardim central, Burle Marx utiliza plantas da
Amazônia como o pau mulato, o abricó de macaco, e no lago, a vitória-régia.
Pela observação no local, a vegetação aquática foi a que mais sofreu ao longo
do tempo dada a falta de conservação que levou à extinção da vitória-régia,
readquirida por ocasião da intervenção de 1998. No projeto original, consta a
estátua de uma índia a se banhar no centro do lago central, mas que nunca existiu.
Próximo à Igreja, está o jardim das plantas exóticas que formam um outro
cenário, contendo a cássia rosa, o filício, o resedá, entre outras espécies.
O projeto paisagístico da Praça de Casa Forte é um
exemplo marcante de expressão artística de um jardim em consonância com os
elementos construídos na paisagem urbana. Para Burle Marx a compreensão do
urbano é fundamental para a concepção do parque ou da praça como parte de um
sistema de espaços livres com função ecológica e estética, na relação com o
espaço edificado. Assim, resultou uma praça de paisagem convidativa e harmônica
que está em perfeito equilíbrio com a arquitetura histórica e edificações
modernas de um bairro residencial tradicional.
Ao visitante apresenta-se uma paisagem de
profundidade e reflexão, por que não dizer um jardim pictórico e poético. Os
espelhos d'água são pontos de atração de um jardim de traçado retilíneo
seguindo a configuração do sítio e paralelo ao casario, utilizando uma dinâmica
própria quando dispõe as plantas acompanhando os caminhos e canteiros, além de
pensar na época de floração oferecendo um verdadeiro espetáculo a ser apreciado
no decorrer do ano. Assim, a dinâmica da paisagem tem no elemento vegetal seu principal
estímulo.
A Praça de Casa Forte vem sendo mantida em parceria
com o setor privado desde 1996, dentro do Programa "Adote uma Praça",
promovido pela Prefeitura da Cidade do Recife, e foi restaurada no ano de 1998,
nos moldes do projeto original, mediante a participação de um grupo de
profissionais da Prefeitura do Recife – URB, EMLURB e SEPLAM – e a colaboração
do Laboratório da Paisagem da Universidade Federal de Pernambuco, além da
Universidade Federal Rural de Pernambuco.